A Liberdade Negativa e a Liberdade Positiva. Estes são os dois conceitos do filósofo político britânico Isaiah Berlin que chamaram minha atenção lendo A Menina da Montanha*, de Tara Westover. Liberdade Negativa é estar livre de obstáculos ou restrições externos, o indivíduo é livre se não for fisicamente impedido de agir, por exemplo, que nenhum outro homem interfira em suas atividades. Já a Liberdade Positiva é o domínio de si, são as regras de si sobre si mesmo, é ter o controle da própria mente, estar livre de crenças e medos irracionais (Confira aqui o artigo do André Ferreira sobre como são criadas nossas Crenças) , de vícios, superstições e de toda forma de autocoerção.
Vislumbrando além do conceito sócio político, o impacto e incômodo em mim foi gerado pela condição de estabilidade versus mudança, o qual eu acreditava ser livre dentro de mim, mas descobri um grande apego a crenças sobre a Liberdade Negativa, que vou explicar a seguir.
O primeiro incômodo veio da questão de como o passado impacta quem você é hoje. Livre de determinismos, descobri um forte apego (Confira aqui o artigo do André Ferreira sobre As Crenças e os 5 níveis do Apego) e contestação sobre a impossibilidade de o passado impactar suas escolhas. Lendo A Menina da Montanha, sentia a raiva passando do meu estômago para a garganta, incapaz de acreditar como a crença em um conceito de família e religião pode fazer a pessoa se cegar diante da crueldade dos fatos. Então, em minha mente vieram os conceitos sistêmicos (das constelações de Bert Hellinger) e da resistência que senti a princípio cada vez que os ouvia (Confira aqui um artigo em que conto minhas primeiras experiências com a Constelação). Percebi a rigidez e a resistência diante de conceitos, que eu mesma havia criado a partir do meu passado, da minha história e da história dos meus antepassados onde a mulher, a família e a religião tinham conceitos bem diferentes do que eu via naquela história de Tara. Foi como se um abismo tivesse se aberto na boca do estômago e meu apego estivesse tentando ainda me segurar pelas bordas.
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A primeira grande reflexão foi que realmente eu estava fazendo a mesma coisa defendendo um passado que tinha feito um sentido para mim em algum momento da minha história, mas não fazia mais. E ainda mais, dividindo isso entre certo versus errado, o que causava essa sensação na boca do estômago. Descobri que eu honrava tudo que havia me trazido até aqui e por isso eu achava que não podia abrir mão disso, não seria ético ou justo. Porém, eu já não precisava mais daquilo, não daquela forma, eu podia dar um espaço verdadeiro, agarrar e desfrutar da minha Liberdade Positiva, sem nenhuma prestação de contas a ninguém. Absolutamente ninguém. Foi a primeira sensação de liberdade.
A segunda grande reflexão veio do contexto sistêmico, crenças, valores. Por muito tempo tive tanto apego aos meus valores e trabalhando com o Modelo Integral de Ken Wilber, tanto no desenvolvimento organizacional e individual, percebi o quanto isso se transformava com o tempo, e tudo bem. A Dinâmica da Espiral de Graves já tinha me mostrado, racionalmente, essa mudança, mas eu precisava vivê-la. Cada vez que repetia meu teste do Barrett Values, no fundo queria que os valores fossem os mesmos, talvez para provar a minha teoria de que a essência do Ser Humano eram seus valores, porém, o teste vinha diferente, porque, de novo, eu não era mais a mesma. Agora, eu estava explorando a mim mesma de uma outra percepção da espiral. E de novo, tudo bem. Mais uma sensação de liberdade.
A terceira grande reflexão veio do abismo que então se abriu quando soltei as mãos da boca do estômago e cai, só cai. Quem sou eu então? Já que minhas crenças e valores não são os mesmos que me deixavam tão confortável e segura, em momentos de autoconhecimento em que podia reafirmá-los, onde eu podia me agarrar agora? Foi aí que senti o verdadeiro sentido de ser livre. E simplesmente, não tem explicação racional para isso. Mas relembrando esse momento, me faz lembrar de Osho: “Dizem que, antes de um rio entrar no mar, ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada que percorreu, para os cumes, as montanhas, para o longo caminho sinuoso que trilhou através de florestas e povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto, que entrar nele, nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. O rio precisa arriscar-se e entrar no oceano. Somente quando ele fizer isso é que o medo desaparece, porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas de tornar-se oceano. Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento. Assim somos nós. Só poderemos ir em frente se arriscar.”
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A minha grande verdade, neste momento, a que posso me apegar é que não existe A Grande Verdade, só aquela que você está vivendo neste momento. Cada um de nós pode ser uma pessoa íntegra, inteira, sendo quem justamente é, neste momento. E poder fazer essa escolha é o verdadeiro sentido de liberdade.
Então, você pode escolher refletir: O que eu posso abandonar que não faz mais sentido para quem sou hoje? Que valores, crenças, instituições foram importantes um dia, mas não fazem mais parte de quem sou neste momento? Que liberdade posso atingir olhando por outro ângulo da espiral da vida? Quem sou e o que posso vir a ser quando me liberto de quem acredito que sou?
Te convido a compartilhar suas reflexões por aqui ou tomando um café comigo! Pode ser uma grande oportunidade de evoluirmos juntos. 😉
*A Menina da Montanha transcreve a trajetória real de Tara Westover que pisou numa sala de aula pela primeira vez aos 17 anos, por conta de seu sistema de crenças familiares e religiosas, até a conquista do doutorado em Cambridge.
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Sabrina Green é Consultora de Desenvolvimento Humano e Organizacional, Psicóloga e Coach pela ICC.
http://www.greenintegral.com.br
Contato: sabrina.green@greendh.com.br