Tenho estudado muito as dinâmicas humanas e organizacionais nos últimos anos, e um fator se mostra não só como ponto chave, por influenciar todos os sistemas onde existam pessoas, mas também como um dos mais perfeitos indicadores de limites para a evolução de consciência de indivíduos e grupos.
Me refiro ao sistema de crenças individuais e coletivas, e, principalmente, o nível de flexibilidade ou apego das pessoas à essa estrutura de crenças.
Então vamos começar pelo entendimento do que são essas crenças?
Para melhor definirmos o que são as crenças, vamos iniciar compreendendo como elas surgem em nós. Podemos dizer que temos dois sistemas cerebrais com os quais deciframos tudo que acontece no mundo ao nosso redor:
sistema 1: é o sistema mais rápido, que utiliza daquilo que já conhecemos para construir suas conclusões: os costumes de nossa família ou comunidade, o conhecimento que adquirimos durante nossa vida, memórias de acontecimentos etc. O sistema 1 é o responsável por exemplo, por nossas primeiras impressões em relação as pessoas.
sistema 2: utilizamos esse sistema na solução de problemas complexos, onde verificamos que aquilo que conhecemos, e as experiências pelas quais já passamos não são capazes de nos levar a conclusões. Esse é um sistema lento, pois precisa de fatos e comprovações para chegar a seus vereditos, ou seja, é o sistema lógico de nosso cérebro.
Quando interpretamos algo como verdade, levando em consideração somente as informações produzidas por nosso sistema 1, ou seja, quando a verdade que construímos é parcial e sem fundamentação lógica ou estatística, acabamos de construir uma crença.
A crença nos faz ter uma falsa impressão de que compreendemos uma situação através do pouco que conhecemos sobre seu contexto. Quero compartilhar 2 exemplos de crenças que costumam aparecer com frequência em nossa sociedade:
“Todo rico não presta” – essa crença pode ter surgido por causa da metáfora bíblica que diz que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no reino de Deus. Essa é umas das principais crenças limitantes na relação das pessoas com o dinheiro e prosperidade.
“Homens não são confiáveis” – mulheres que tiveram ou presenciaram relacionamentos onde homens não respeitavam suas parceiras, podem acreditar que toda população masculina tenha esse padrão de comportamento. Imagine o impacto dessa crença nos relacionamentos daquelas que a possuem.
A melhor notícia é que quando tratamos de nossas crenças, existe um nível de intensidade no apego que temos com elas. A tradição tolteca, de origem mexicana, hoje mais conhecida pelos livros de Don Miguel Ruiz e também de seu filho Don Miguel Ruiz Jr, nos indica 5 níveis de apego para mensuramos se temos um relacionamento saudável ou menos saudável com nossas crenças. Don Miguel Jr, explica esses níveis, através de uma comparação com o futebol.
Vamos aos exemplos:
Nível 1 – O Eu Autêntico
Imagine que você gosta de futebol e que pode ir a qualquer estádio do mundo, assistir a qualquer partida, sem que você escolha um lado para torcer. Você curte o jogo, e quando o juiz apita o fim da partida, você volta pra casa e segue sua vida. No nível 1 de apego às crenças, você pode curtir o momento, sem ter nenhum apego. Você tem total controle sobre seus comportamentos e reações. Não existe uma crença limitante nesse momento.
Nível 2 – Preferências
Agora, você assiste ao jogo, em qualquer estádio do mundo, entre quaisquer equipes, mas agora está torcendo para uma delas. Você percebe que ao ter uma preferência, o jogo mais emocionante. Sua escolha é baseada em qualquer coisa, desde a cor do uniforme até os nomes dos jogadores. No entanto, no fim da partida, você volta pra casa e segue sua vida normalmente, seja qual for o resultado da partida. Sua forma de lidar com sua crença, faz com que você compartilhe e receba impressões sobre o que está acontecendo, sem que para isso você precise se identificar permanentemente com essas impressões. Você experimenta, aproveita, se emociona, mas não se enrosca.
Nível 3 – Identidade
Você agora é um torcedor de um time específico. As cores do time mexem com suas emoções. O resultado da partida define parte de seu estado de humor fora daqueles noventa minutos de jogo. Quando ele ganha, você é só alegria, quando ele perde, você fica triste. Mas, mesmo assim, você não depende de seu time para definir sua autoaceitação. Você é capaz de aceitar uma derrota e até parabenizar o torcedor adversário. Ter momentos bons e ruins faz parte da vida. Quando conversa com pessoas que pensam diferente de você, é capaz de manter uma conversa e até tomar uma cervejinha sem problemas. Sua vida já é afetada por sua identidade com a crença, ela já mexe com seu humor, e influência em sua vida depois do jogo. Essa crença é parte do que você é.
Nível 4 – Interiorização
Quando vai ao jogo, a vitória ou a derrota de seu time, agora são vistas como sua derrota ou sua vitória. A derrota de seu time afeta diretamente sua autoestima. Claro que você jamais tomaria uma cerveja com um torcedor do time adversário. Você é um daqueles que quer saber de tudo que acontece na vida dos jogadores de seu time. O jogo faz parte de sua personalidade, moldando sua identidade de acordo com o que você acredita ser um torcedor “verdadeiro”
Nível 5 – Fanatismo
O time é motivo de adoração para você! Seu sangue possui as cores do manto sagrado! Quem torce para o outro time se torna inimigo automaticamente, pois você precisa defender suas cores. Só seu time é de verdade, os outros são de mentirinha, sem relevância. A vitória de sua equipe torna você uma pessoa melhor. Quando seu time é derrotado, logo você encontra uma teoria da conspiração para explicar o que dentro na normalidade jamais aconteceria. Seu fanatismo não poupa ninguém que pense diferente, você é capaz de deserdar seu filho caso ele resolva torcer para o adversário.
Se você, assim como eu, enxerga que o melhor a ser feito é reduzir seu nível de apego com suas crenças, principalmente àquelas que estão limitando sua interação com as coisas do cotidiano, e principalmente com as demais pessoas, a maneira mais eficiente que reconheço de começar a mudar esse cenário passa por 3 etapas:
Presença e escuta autêntica – estar presente em corpo, mente e emoções no que estamos fazendo, nos possibilita o acionamento do sistema 2. Isso requer a suspensão dos julgamentos, o que possibilita uma escuta autêntica ao que as demais pessoas estão compartilhando conosco;
Abertura para pontos de vista diferentes – tomar consciência de que mesmo que você tenha muito conhecimento sobre algo, isso não quer dizer que você conhece toda a verdade sobre esse tema. Estar aberto a novas formas de pensar, mesmo que você não esteja de acordo com elas, é uma forma de aprender sobre o mundo do outro e sobre o outro.
Aceitar que transitamos entre os níveis de apego – quando o assunto é crenças, precisamos aceitar que cada um de nós transita em níveis diferentes para cada uma de nossas crenças. Eu posso estar no nível 1 para minha questão com o dinheiro, e estar no nível 5 em uma crença relacionada a política. Tomar consciência disso, nos deixa em nível de igualdade com todos os demais seres de nossa espécie. Ou seja, não existe um melhor que o outro, somente diferentes crenças em que ainda estamos muito apegados e que precisamos nos desapegar.
Então, quando você vai começar o seu trabalho de desapego ?
André L. G. Ferreira, Master Reiki, Coach certificado pela International Coaching Community, Administrador ,especialista em Qualidade , e Instrutor em Mindfulness.
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