Parece que o mundo parou em um estágio tóxico, regado a discórdia, onde as polaridades são vistas como verdades insubstituíveis, e de certa forma, até como necessárias. Muitas coisas boas que foram criadas, e que brotaram de princípios elevados acabaram sendo desvirtuadas ao longo do tempo, não suportando o fardo pesado das ideologias e pressupostos que permeiam nossa civilização. Nosso modelo de comunicação predominante é a discussão, onde cada lado leiloa seus pontos de vista na busca pelo convencimento, ou ainda pior, busca sua imposição perante o lado oposto. Assim surgem as maiorias, que logo se tornam fortes e opressoras, e o mais forte é quem dita o ritmo das coisas por aqui, em nosso planeta.
Esquecemos que existem outras formas para nos comunicar, inclusive algumas que já mostraram resultados positivos, uma delas é a prática do diálogo, onde suspendemos o que conhecemos, e o que acreditamos que somos, para que assim surja um terreno fértil para um novo entendimento diante de velhos temas. Utilizo o suspender e não o eliminar, pois a história de cada um, e todo conhecimento que está em cada ser, também faz parte da grande sabedoria que o diálogo busca encontrar, mas como diria Krishinamurti – “ O copo tem de estar vazio para conter algo.” – e é assim que uma nova consciência se forma, através de copos vazios que se unem em busca de um novo significado para o que já não funciona para todos nós.
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O ponto de partida para que possamos suspender pressupostos está na compreensão de nosso modelo de pensamento, que é constituído basicamente por aquilo que aprendemos em nossa família, escola, trabalho, religião, cultura e sociedade. Nada do que pensamos é puro e autêntico, tudo surge de premissas concebidas por nossa interpretação daquilo que alguém disse, escreveu ou fez. Nosso pensamento simplesmente encontra uma maneira, normalmente a que seja mais aceitável ao ambiente no qual estamos inseridos, de juntar todo esse aprendizado, e assim formar nossas conclusões que passam a ser verdades para cada um de nós. Algumas dessas verdades são compartilhadas por pequenos, médios ou grandes grupos de pessoas, o que fez nascer nações, religiões, partidos políticos etc. Mas, depois essas verdades passam a se fragmentar, e as religiões se dividem, as ideologias políticas racham, os países ficam divididos, e o mundo fica cada vez mais longe de chegar à uma unidade.
Somente quando cada um de nós der o primeiro passo, destituindo o poder dado ao pensamento, permitiremos a chegada do novo significado, que será muito diferente de tudo que produzimos até agora como civilização. Até onde conheço de nossa trajetória como civilização, boa parte de nós compartilha do pensamento que prega que a conquista da liberdade só é possível com imposição, e assim ainda temos as guerras, a desigualdade, a fome, entre outras patologias que parecem ser inextinguíveis. Todos esses problemas surgem por não termos fortalecido em nós o músculo da compreensão do que realmente é necessário para que possamos usufruir de nossa passagem por aqui, ou melhor ainda, não compreendemos o real significado da liberdade. Estamos perdidos em inúmeras ilusões, e machucamos, ou até matamos para que elas sejam atendidas. Enxergamos os outros, aqueles que não compartilham de nosso modo de pensar, como obstáculos para a realização de nossas ilusões, que nada mais são do que falsas necessidades. Assim acontece com as nações que buscam fechar-se em casulos de uma ilusória prosperidade, criando defesas como armamentos nucleares, para se protegerem da contaminação de outras formas de pensar. Mas, será que realmente poderão se isolar do mundo? Será que algo pode se isolar do mundo?
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Que tal começarmos a mudar essa realidade?
Quem sabe se montarmos grupos de diálogo, com 10, 20, 30 ou 40 pessoas diferentes em seu modo de pensar, e traçarmos como único objetivo o fortalecimento de nossa comunicação e aceitação ao diferente, iniciaremos nossa jornada para um novo modelo de convivência entre todos os povos, pois os sistemas costumam mudar assim, aos poucos. Uma floresta começa com algumas pequenas sementes, e depois as árvores vão surgindo, os animais vão chegando, esses animais levam as sementes para outros campos, e novas florestas vão surgindo em uma espiral sem fim.
Meu entendimento, depois de muitos diálogos, é de que não se deve esperar um líder para nos guiar no caminho da conquista dessa evolução de consciência tão sonhada por muitos para nossa civilização, esse líder está em cada um de nós, mas ele só se manifesta quando nos abrimos para nos conectarmos através do diálogo.
Que tal mudar esse mundo?
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