Hoje pela manhã, lendo o jornal, esta frase do Mario Sergio Cortella mexeu muito comigo: “A questão não é só eu chegar ao final desse túnel escuro que é pandemia, e ali respirar aliviado porque eu o atravessei. E como é que eu chegarei? Se eu chegarei com decência, se eu chegarei com a ideia de que mereci mesmo atravessar e lá chegar, ou se chegarei envergonhado.”
Como chegarei ao final? Você já se fez esta pergunta?
Na entrevista, Cortella levanta pontos de humildade de cuidado coletivo, das ações e palavras ditas e não ditas. O objetivo aqui não é um julgamento entre o certo e errado, nem quem vai para o céu ao para o inferno mediante seu comportamento durante a quarentena. O convite aqui é para uma autorreflexão!
Por isso vou compartilhar algo que tem me incomodado e venho trabalhando nos últimos dias. Durante todo esse processo de mudança que a pandemia e o isolamento social tem proporcionado, acredito que já passei por todos os estágios da mudança no que tange à pandemia (vocês podem conferir no artigo que escrevi sobre Change Management quais são estes estágios https://www.greendh.com.br/o-que-descobri-sobre-o-change-management-neste-outono/)
Porém, algo nos últimos dias tem me ‘pertubado’, isso mesmo, foi esse sentimento que percebi, que gerou incômodo, e, consequentemente, me levou a um último sentimento considerado socialmente incorreto de se sentir: a raiva. Sim, travei no processo de mudança justo na fase da raiva! E não tinha ideia, em um primeiro momento, o que estava me causando isso.
A CNV me trouxe respostas
Bom, a CNV (Comunicação Não Violenta) foi um caminho que me ajudou a descobrir o que estava acontecendo. Lendo o livro do Marshall Rosenberg “O surpreendente propósito da raiva”, desenhei um esquema para começar a me auto-observar: Raiva = Algo que alguém me fez = Julgamento. A raiva nunca é causada por algo que alguém te fez, mas pela avaliação de que aquela pessoa fez algo ‘errado’ na sua percepção. Comecei então a separar aqueles comportamentos ‘gatilhos’ das reais ‘causas’ do meu sentimento de raiva.
Trabalhando no reconhecimento dos julgamentos e comportamentos estavam despertando esse sentimento de raiva, levava em mente o mantra diário de Marshall que quando sentimos raiva estamos em desconexão com nossas necessidades. Mas qual eram elas?
Percebi que meus gatilhos eram acionados principalmente ao ver as notícias sobre política e saúde, comportamentos que eu julguei como falta de coletividade. Percebi que a minha necessidade de justiça e igualdade não estava sendo respeitada. Um sentimento de alívio começou a tomar conta de mim, comecei a perceber que nos próximos dias os mesmos disparadores não causavam o mesmo sentimento em mim.
Marshall disse que “os pensamentos que nos levam a ficar com raiva envolvem a ideia que as pessoas merecem sofrer pelo que fizeram”, sim, eu tinha um sentimento enorme dentro de mim de punição. Então, percebi, que comecei a olhar com mais empatia para aqueles gatilhos diários: a pessoa andando sem máscara na rua, a falta de gentileza da pessoa do mercado, a falta de respeito do líder da nação para com um povo que tem perdido muito nos últimos tempos com a pandemia, principalmente respeito e dignidade. Que dor que cada uma destas pessoas pode estar vivendo que nem imaginamos?
Com a paz reinante novamente no meu interior, voltei novamente para olhar para fora no que tange a ação. Aqui, gosto muito de usar o modelo integral do Ken Wilber (o André escreveu um excelente artigo explicando a Teoria Integral https://www.greendh.com.br/visao-integral-um-mapa-para-a-compreensao/) para colocar todo esse ‘processo interno’, em prática externa, pois o que vale uma transformação se ela não for posta em ação?
E você, que aprendizados internos a pandemia te proporcionou e você pode transformá-los em ação para a coletividade? Como você vai chegar ao final desta pandemia?
Sabrina Green é Consultora de Desenvolvimento Humano e Organizacional, Psicóloga e Coach pela ICC.
http://www.greenintegral.com.br
Contato: sabrina.green@greendh.com.br