Alguns gostariam de não senti-la. Outros juram controlá-la. Eu prefiro dizer que sinto raiva e que quando sinto não acho bom controlá-la.
Como eu venho de uma carreira de mais 20 anos, trabalhando com qualidade, sei bem o que é ter algo sob total controle. Para que possamos ter o controle de um processo, por exemplo, precisamos ter controle de todas as variáveis que possam influenciar neste processo, tudo precisa estar sob nosso controle, nada pode variar além dos limites, quando alguma dessas variáveis sai do controle, o processo começa a produzir produtos com qualidade no mínimo duvidosa.
Sabendo disso, como eu, um simples mortal, poderia controlar os processos que me levam a sentir raiva? Será que eu conheço todas as variáveis que influenciam este sentimento em minha vida? Minha resposta para essas perguntas está no simples fato de que não posso controlar minha raiva, posso simplesmente transformar a energia gerada por ela.
Mas a raiva gera energia? Sim, meus amigos, eu costumo chamar de energia, tudo aquilo que nos motiva a fazer algo, seja bom ou seja ruim. Quando um cidadão joga o carro para cima do meu no trânsito, e eu solto dois ou três palavrões em direção a este cidadão, estou na verdade, ‘queimando’ energia originada em minha raiva. Acontece também em outros lugares, em reuniões onde alguém nos provoca ou menospreza o trabalho que fizemos, a usina de energia da raiva, começa a gerar seus megawatts e, cabe a nós, decidirmos o que fazer com ela. Podemos ligar uma cadeira elétrica e ‘fritar’ aquele que nos causou tanta raiva, ‘soltando os bichos’ em cima do fulano que nos fez sair do sério e, é claro, acabando com qualquer chance dessa reunião ter um final minimamente útil. Mas podemos também tentar a velha receita tão ensinada por aí, por aqueles gurus que vivem nos dando lições sobre o mundo. Podemos controlar nossa raiva, dar uma risadinha falsa, ‘engolir um sapinho’ quem sabe, mas com isso causar um curto circuito em nosso sistema interno. Meu amigo, a energia da raiva quando é reprimida, faz muito estrago, então não tente inverter a direção dessa energia, ela precisa sair de você de alguma maneira.
Vamos lá, como fazer para essa energia sair de uma forma saudável, boa para todos, onde não existam mortos e feridos?
Primeiro é preciso jamais perder a consciência, a raiva adora nos levar para um estado inconsciente, sendo que quando estamos inconscientes, fazemos as maiores bobagens de nossa vida. Sabe aqueles 5 minutos de fúria que todo mundo já teve? Então, são deles que estou falando, tem gente que joga a vida fora nesses 5 minutos, só por causa da ausência da consciência. Porém, quem disse para você que é difícil manter-se consciente em um momento de raiva? Eu também não vou dizer que seja fácil, mas tudo depende da vontade de cada um. Quando eu encaro alguma coisa com meu ego inflado, ou seja, quando meu orgulho fala mais alto e eu preciso defendê-lo, vai ficar difícil se manter consciente, pois um ego inflado, jamais me deixara consciente. Um ego inflado, é aquele que não nos deixa observar a situação por outro ponto de vista, essa bola cheia de gás de orgulho, nos leva para cima das nuvens, onde só existe uma pessoa que tem a razão em tudo, onde só existe uma pessoa a ser defendida dos ataques, essa pessoa não é o outro, pode ter certeza disso. Para transformar a energia gerada pela raiva, é preciso dar uma agulhada e esvaziar nosso ego, se continuamos a ter orgulho em excesso, continuamos inconscientes frente às situações de raiva.
Agora vamos lá, ninguém aqui está pensando que eu já cheguei a esse estado superior de estar livre do ego inflado, não é mesmo? Mas eu estou buscando chegar lá. Como estou fazendo?
Comecei por algo que já me trouxe grandes resultados, aprendi a não julgar as pessoas. Aprendi que cada um tem o seu jeito de ser, então prefiro ao invés de julgar, aprender um pouco mais sobre o outro, a tentar compreender o objetivo por trás da ação. Algumas pessoas podem ter valores bem distintos dos meus, mas isso não pode ser empecilho para construirmos algo em comum.
Passei a ouvir com interesse as pessoas, quero realmente saber o que elas acham sobre o assunto que estamos conversando, pois elas podem sim trazer à luz algo de novo, algo que o plano que parecia perfeito, acabou não contemplando.
O silêncio virou o meu grande aliado. Antes achava que havia necessidade de ter uma resposta para tudo, mesmo sabendo que essa resposta não iria mudar nada, não iria agregar valor algum ao que estava acontecendo. Nem sempre quem cala consente.
Aprendi a voar também. Verdade, voar para muito alto, de onde eu possa ver a situação como apenas um espectador. Lá de cima eu compreendo melhor o que está ocorrendo. É como voar sobre o trânsito de uma grande metrópole, lá de cima fica mais fácil encontrar um caminho melhor para chegar em casa. Quando vemos as coisas por uma visão mais ampla, passamos a entender os demais pontos de vista, passamos a ser mais flexíveis e assertivos em nossas colocações e ações.
Bom, eu estou esvaziando meu ego com essas ações e com isso venho transformando alguns megawatts de minha raiva, quando ela aparece, em ações que me fazem feliz e não deixam os outros com raiva também.
Espero que a minha experiência com a raiva, tenha sido de alguma forma proveitosa para você que está lendo esse texto, ou que pelo menos não tenha deixado você com raiva deste autor.
Até a próxima pessoal.
André L. G. Ferreira, Coach certificado pela International Coaching Community, Administrador e especialista em Qualidade.