Depois de 3 sabotadores devidamente apresentados, quero começar esse texto com um pouco de música boa. (Então …Toca Raul!)
“ Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês”
O inesquecível Raul Seixas já trazia na letra da música “Ouro de Tolo” o grande dilema dos profissionais de nossa sociedade capitalista: como não somos felizes com empregos que nos fazem realizar todos os nossos sonhos de consumo? Carro novo na garagem, uma bela casa, viagens internacionais, presentes etc. Como explicar que mesmo sendo um “dito cidadão respeitável” muitas pessoas vivem em consultórios médicos para combater os efeitos da ansiedade e do estresse? Ainda bem que esses empregos costumam pagar convênios de alta qualidade, e até reembolsar parte dos remédios, isso faz com que os prejuízos sejam menores. É claro que existem também, aqueles que são capazes de arriscar a própria vida para poderem desfrutar de alguns momentos de luxo em suas vidas. Um grande exemplo foi o que aconteceu em Serra Pelada na década de 80: milhares de pessoas se aventuraram em um lugar onde não existiam as mínimas condições de saúde e segurança na esperança de “bamburrar” – expressão utilizado no garimpo relacionada ao fato de enriquecer.
Sejam os garimpeiros ou os que hoje já encontraram o “Ouro de Tolo”, todos têm uma coisa em comum. Ambos tiveram suas carreiras sabotadas pelo cruel “Senhor do Ouro”. Um sabotador que faz com que as pessoas acreditem que somente com o poder do dinheiro poderão encontrar a segurança e a felicidade em suas vidas. Só será verdadeiramente feliz aquele que conseguir “bamburrar”.
Vamos então conhecer esse sabotador de carreiras:
O “Senhor do Ouro”
Quando atua?
Seus ataques costumam ser mais frequentes no momento em que estamos escolhendo aquilo que vamos seguir como profissão. O grande sinal da presença do “Senhor do Ouro” está no fato de a primeira pergunta feita na análise de uma possível profissão ser sempre a mesma: um profissional desta área ganha bem? Quando o “ganhar bem” se transforma em primeiro requisito na escolha de uma carreira, meu amigo, o “Senhor do Ouro” está no comando.
Como ele atua?
Ele atua em quase todos os nossos sentidos:
- Olfato – você começa a se deliciar com a fragrância dos perfumes caros, com o buquê dos melhores vinhos, aquele cheiro de carro novo;
- Tato – a deliciosa sensação de tocar em lençóis da mais pura seda, correr as mãos em uma pele bem tratada ou cabelos bem cuidados;
- Visão – como é bom visitar aquele lugar do cartão postal, ou se ver no espelho vestindo uma roupa de grife, ter uma joia cara para apreciar, uma obra de arte para admirar;
- Paladar – o sabor dos melhores chocolates suíços, dos pratos dos melhores restaurantes, os melhores queijos;
- Audição – frequentar bons concertos, ter um equipamento de som de última geração;
O “Senhor do Ouro” nos seduz com as coisas boas que só o dinheiro pode comprar. Transforma uma carreira em um simples meio de conquista do prazer existente no poder de compra de coisas boas. Ele só não consegue controlar a nossa intuição. Mas quem é louco de ficar dando bola para a intuição?
Quais são seus disfarces?
O “Senhor do Ouro” não usa pessoas como seu disfarce para poder sabotar carreiras, ele se esconde por detrás do que essas pessoas têm. Tudo aquilo que se transforma em objeto de desejo, ou que seja visto como uma obrigatoriedade para a sua aceitação em um grupo de amigos ou classe social, são os melhores disfarces para esse sabotador.
O pior é que cada vez mais cedo começamos a encontrar passaportes de acesso em nossas vidas: a quase obrigatoriedade de termos uma festinha em um buffet caro, ou de visitar a Disney antes de fazermos 15 anos, mostram como a conquista do que os outros têm começa a ser fundamental para nossa existência desde cedo.
Como derrota-lo?
A única forma de sair dessa armadilha é tendo a coragem de aceitar que uma carreira pode ser muito mais do que um meio para se conquistar coisas ou dinheiro. Uma carreira pode ser em si uma fonte de realização, pode ser uma fonte de felicidade. Os gatilhos para a felicidade estão em coisas que vão muito além daquilo que nossos sentidos podem captar no mundo exterior. Só quando utilizamos nossa intuição, aquele sentido que nos faz ir além do que é racional, é que podemos ter a resposta de qual é nossa vocação. A palavra vocação já carrega esse significado: vocação é uma aptidão natural, um pendor, uma capacidade específica para executar algo que vai lhe dar prazer.
O grande aprendizado que precisamos ter para derrotar o “Senhor do Ouro” é o de acreditar que podemos ser felizes em nossa carreira, não precisamos ficar aguardando o final de semana ou as férias para isso, muito menos ganhar o maior salário do mercado. Precisamos simplesmente encontrar o que faz sentido para nossa missão de vida.
Semana que vem volto com o último dos sabotadores de carreira.
Até a próxima pessoal.
André L. G. Ferreira, Coach certificado pela International Coaching Community, Administrador e especialista em Qualidade. Sócio Consultor na Green Desenvolvimento Humano
andre.ferreira@greendh.com.br