Quem diria que em plena era da informação ainda estaríamos enfrentando problemas com a comunicação entre as pessoas dentro dos núcleos sociais?
E quem é capaz de mensurar o impacto que esses problemas causam nos relacionamentos profissionais e pessoais?
Quanto poderíamos ganhar em eficiência caso tivéssemos uma comunicação mais assertiva?
Mais uma vez vou recorrer a Análise Transacional para me auxiliar na busca por respostas naquilo que considero ser uma das principais causas dos problemas de comunicação entre as pessoas. A base utilizada será a tríade de estados do ego, a PAC (Pai, Adulto e Criança) com a finalidade de demonstrar os modelos de comunicação frequentemente encontrados nas relações interpessoais. Primeiramente vamos conceituar de forma bastante resumida, cada um dos estados do ego e suas variáveis:
1 – O PAI. Quando o ego está neste estado pode agir em 3 sub estados de conduta:
a) O Pai crítico: Quando Positivo é orientado, protetor, direto, firme e justo; enquanto o Negativo é perseguidor, agressivo, autoritário, humilhante, preconceituoso e moralizador compulsivo;
b) O Pai Protetor: Quando Positivo é permissivo, afetuoso, protetor, ensinando sem imposição; enquanto o Negativo é salvador, super- protetor e meloso, o que impede o crescimento;
c)O Pai Bruxo: É aquele que age culpando ou colocando medo nos outros. Esse estado de ego é com certeza o maior causador de doenças relacionadas ao estresse provenientes de relacionamentos de trabalho. Quem tem um chefe Pai Bruxo sabe sobre o que estou me referindo.
2 – O Adulto: Quando Positivo é racional, lógico, objetivo, ético, atuando com simpatia no aqui-agora, enquanto o Negativo é manipulador, planejando tudo com a intenção de tirar o máximo de proveito para si mesmo ou visando prejudicar o outro.
3 – O estado de ego Criança, assim como o Pai , também tem 3 sub estados distintos:
a)A Criança Livre: Quando Positiva é espontânea, natural, afetuosa, que desfruta, ama, é criativa, curiosa e intuitiva; enquanto a Negativa é egoísta, bagunceira, impetuosa e ruidosa. Aquela que costuma não ouvir o outro, discorda antes mesmo de entender;
b) A Criança Adaptada: Quando Positiva é disciplinada e responde automaticamente em situações de rotina, permitindo a economia de tempo e esforço e se adaptando às normas sociais, possibilitando a convivência na sociedade; enquanto a Negativa repete condutas destrutivas da infância. Quando Submissa é cheia de temores, ansiedade, confusão, angústia e oposição, sistemática, ressentida, desconfiada, indignada e carrega muito ódio, busca sempre um Perseguidor;
c) O Pequeno Professor: É aquele mais espontâneo, curioso e criativo, é o estado de ego mais raro após terminada a infância, uma vez que as crenças passadas pelos mais velhos acabam por destruir este estado nas pessoas. Acessar o Pequeno Professor é uma virtude que poucos conseguem na vida adulta.
Com essas denominações podemos chegar a algumas conclusões dentro da dinâmica de comunicação interpessoal. Levando em consideração o estado de ego do emissor podemos saber qual é o estado de ego que ele espera do receptor. O mesmo ocorre com a resposta do receptor para o emissor, essa resposta é direcionada a um estado de ego específico do emissor. Quando tanto um quanto o outro erram nessa estratégia, acontecem os problemas de comunicação. Vejamos os exemplos:
Exemplo A -Emissor está em estado de ego Criança e recebe uma resposta direcionada para um ego Pai)
Emissor: “Acho que merecemos tomar um sorvete agora” (Criança livre para Criança livre)
Receptor: Você paga? (Criança para Pai)
Exemplo B – Emissor se comunica com Criança livre mas recebe resposta de um receptor Pai)
Emissor: Acho que merecemos tomar um sorvete (Criança livre para Criança livre)
Receptor: Acredito que seja melhor terminamos esse trabalho, pois faltam apenas 10 minutos para a reunião. Depois podemos tomar nosso sorvete com tranquilidade. (Adulto para Criança)
É claro que em uma primeira impressão podemos chegar à conclusão de que o estado de ego Adulto seria o melhor em qualquer situação, mas não é bem assim. O mais importante é podermos acessar o melhor estado para cada situação. No ambiente de trabalho, um líder que se identifique com o estado de ego Pai, na maior parte do tempo, pode trazer uma série de problemas para a sua equipe. Assim como um pai que se identifica com o estado de ego Adulto na relação com seu filho de 3 anos, também vai deixar a desejar na comunicação entre eles. Mas você já imaginou o quanto é importante podermos ter acesso a nossa Criança Livre (Positiva é claro) quando estamos frente a um problema que requer o famoso “Pensar fora da caixa”? Ou a necessidade de sermos um Pai Protetor quando um colaborador está passando por problemas pessoais?
Talvez um modelo ideal de utilização de modelos de ego, sendo representado graficamente, possa ser da forma que vemos nesta figura:
Ser o mais racional possível (Adulto) na maior parte do tempo, com muito humor (Criança Livre), juntamente com uma capacidade criativa (Pequeno Professor), ainda podendo acessar todos os demais estados do ego no momento em que forem necessários. Esse talvez seja o grande desafio em nosso dia a dia.
Mas quero fazer um convite a você. Comece a observar as situações em que você está tendo êxito em sua comunicação interpessoal. Monte um pequeno diário e anote qual foi o modelo de ego que você utilizou frente a cada situação é o mais apropriado com cada pessoa. Tente analisar qual foi ciclo que foi estabelecido entre emissor e receptor, assim você estará moldando uma estratégia para encarar qualquer situação com êxito.
Grande abraço e até a próxima
André L. G. Ferreira, Coach certificado pela International Coaching Community, Administrador e especialista em Qualidade.