Para falar de hábitos, primeiramente gostaria de desfazer uma tremenda confusão que existe entre hábitos e costumes. Muita gente acredita que a palavra hábito é sinônimo de costume, mas não é bem assim. Veja a definição dada pelo gramático e dicionarista Luiz Antônio Sacconi:
“Convém não confundir: Costume é o modo de agir muito geral. Hábitos é o modo de agir muito particular, pessoal. Uma pessoa tem hábito, um povo tem costumes. Por isso é que nunca se ouviu falar em usos e “hábitos” de um povo. ”
Então vamos tratar de algo que é individual, que se difere entre as pessoas. Mas qual é o motivo de termos hábitos?
Os hábitos funcionam como um dispositivo de economia mental. Um hábito é criado para que algo seja feito de forma automática, assim a energia de nossa mente é poupada para fazer coisas não repetitivas ou rotineiras. Imagine se toda vez que você fosse escovar os dentes pela manhã, tivesse que elaborar uma estratégia mental para isso, ou se cada vez que tivesse que andar, seu corpo tivesse que reaprender essa rotina.
Estamos falando de algo muito poderoso, algo que não se muda ou se desfaz com facilidade. No livro “O Poder do hábito” de Charles Duhigg, muitos exemplos são dados, mas gostaria de destacar um que me chamou muito a atenção. O exemplo é o que aconteceu com o Senhor Eugene Pauly, ou “E.P.”, como ele ficaria conhecido na literatura médica. Ele sofria de encefalite viral, uma doença que causou danos gravíssimos em seu cérebro, deixando-o praticamente sem memória de curto e longo prazo. “EP”, foi acompanhado de perto por alguns cientistas, que queriam saber como ele conseguiria viver sem a capacidade de memorizar as coisas. Mas algo surpreendente aconteceu, quando após alguns meses, “E.P” começou engordar muito, o que chamou a atenção da equipe que o acompanhava. Ao visitarem “E.P”, os cientistas descobriram algo bastante curioso. ”E.P” não conseguia descrever o caminho entre sua sala e a cozinha, ele não conseguia se lembrar, mas quando sentia vontade de comer um delicioso creme de amendoim, simplesmente saía de sua poltrona na sala, caminhava até a cozinha, abria a geladeira, pegava o pote de creme de amendoim, e matava sua vontade, depois voltando para a sala e, alguns segundos depois já não se lembrava ter comido algo. Ele repetiu aquilo por diversas vezes na presença da equipe. Aquilo que levou “EP” até a cozinha é o mesmo que faz você dirigir seu carro sem pensar nos pedais, essa é a força dos hábitos. Os hábitos foram tão fortes que superaram a danos no cérebro, esse piloto automático é realmente potente.
Após muitos estudos realizados no centro de Ciências Cerebrais e Cognitivas do Massachusetts Institute of Technology, mais conhecido como MIT, foi comprovada a existência de um loop de construção de hábitos. Este loop é composto por 3 fases distintas: Deixa, rotina e recompensa.
A deixa é um estímulo que o cérebro recebe e o coloca em modo automático, selecionando um hábito adequado para a situação;
A rotina que pode ser física, mental ou emocional;
A recompensa que é o que leva nosso cérebro a aceitar armazenamento de um hábito ou não. Tudo depende do que ele ganha com isso.
Com a repetição desse ciclo por várias vezes é que se formam os hábitos.
Sabendo o que são, como surgem, e principalmente de sua indestrutibilidade, podemos tirar algumas conclusões importantes para nosso desenvolvimento pessoal, que valem ser destacados:
- Hábitos só existem por que existe uma recompensa que os motiva. Portanto, não importa se eles são bons ou maus hábitos, eles trazem algo que você gosta de receber. Então não adianta querer trocar um mau hábito um bom, sem levar este fator em consideração. Por exemplo: Se você tem o mau hábito de tomar refrigerante todos os dias, você só faz isso devido ao prazer que o açúcar e o gás desse refrigerante lhe proporcionam. Sendo assim, para se ter sucesso na substituição desse hábito para algo mais saudável, será preciso encontrar um bom hábito que lhe proporcione uma recompensa parecida. Mas esse é fácil, existem muitas frutas saborosas que fazem sucos maravilhosos e, muito mais saudáveis que os refrigerantes, moleza;
- Bons hábitos para você, não são necessariamente bons para mim. Como já vimos nesse texto, os hábitos são individuais. Existem muitas revistas por aí, vendendo fórmulas de hábitos saudáveis, estampando em suas capas, exemplos de sucesso. Tome cuidado para não se iludir, cada um vive em uma realidade, cada um funciona de uma forma, cada um busca uma recompensa diferente;
- Nada nesse mundo é tão eficiente na construção de campeões quanto os hábitos. Pessoas que conseguem focar em suas metas, e economizar energia mental usando hábitos em atividades rotineiras, gastam a energia de seus cérebros criando coisas novas, ou simplesmente aproveitando mais as coisas boas da vida. Vivem sem estresse, para eles o trabalho parece mais fácil, não existe falta de tempo;
- Jamais ordene sua mente a não fazer alguma coisa. Nossa mente não entende o comando “Não”. Ela simplesmente não assimila essa informação. Vamos fazer um teste, vou pedir uma coisa, e você, tente obedecer. Não pense em um carro vermelho. Impossível não pensar em um carro vermelho não é mesmo? Portanto, ao alterar seus hábitos, sempre leve em consideração coisas não restritivas. Se você NÃO quer acordar depois das oito todos os dias, para “NÃO” se atrasar no trabalho. Coloque isso de forma positiva. Vou acordar as sete todos os dias e assim vou chegar tranquilamente ao meu local de trabalho;
- Mudar hábitos não é fácil para ninguém. Temos que dar um passo de cada vez, ir conquistando aos poucos o bom hábito. Um bom hábito precisa te satisfazer por completo, não adianta nada querer dar uma arrancada e buscar chegar em algo rapidamente, se isso não for sustentável. Isso é o que acontece com aquelas promessas de passagem de ano, muita gente jurando que vai mudar completamente seus hábitos, até tentam por alguns dias ou semanas, mas depois tudo acaba se perdendo, pois não planejaram a mudança, não consideraram todas as variáveis. Faça um plano de avanço gradativo, dentro de suas possibilidades. Se você quer ter um hábito de zerar o açúcar em sua alimentação, que tal ir diminuindo a quantidade em cada semana, até chegar ao zero açúcar?
Pode parecer impossível, mas não existe hábito que não se mude, basta uma boa dose de vontade, acompanhada por muita ação e persistência.
Muitas pessoas procuram um coach para ajudar na identificação e na elaboração de um plano de mudança de hábitos, sempre visando a realização de uma grande meta. Os processos de coaching são facilitadores muito poderosos para este objetivo.
Para motivar um pouco, resolvi citar um mestre que conseguiu fazer o impossível virar realidade. Que ele traga inspiração para você também.
” Suas crenças se tornam seus pensamentos
Seus pensamentos se tornam suas palavras
Suas palavras se tornam suas ações
Suas ações se tornam seus hábitos
Seus hábitos se tornam seus valores
Seus valores se tornam o seu destino.”
(Mahatma Gandhi)
Até a próxima pessoal.
André L. G. Ferreira, Coach certificado pela International Coaching Community, Administrador e especialista em Qualidade.