Na histórica e sangrenta primeira metade do século passado, a humanidade experimentou toda a intolerância que pode ser despertada por um líder em seus liderados. Tudo começa com uma crise, depois você elege os culpados pelo surgimento dessa crise, e aí já sabemos onde tudo termina. Tudo termina em ódio e intolerância.
O mundo mudou muito desde a segunda guerra mundial. A população mundial cresceu assustadoramente, hoje somos mais de 7 bilhões de habitantes em mais 195 países. Cada um com suas crenças e ideologias.
Dentro das empresas, como um líder deve agir para incentivar a aceitação ao invés de reforçar a intolerância que anda tão presente também em nossos dias?
Pode ter certeza de que essa não é uma tarefa fácil para um líder, ainda mais com alguns temas que acabam sempre surgindo durante um dia de trabalho: a menina que foi estuprada, o partido político, futebol, opções sexuais, religiosidade etc.
Alguns acreditam que esse tipo de assunto deveria ser evitado, deixado do lado de fora da empresa, mas, isso é impossível, as pessoas passam a maior parte de suas vidas dentro do ambiente de trabalho. Pedir para as pessoas deixarem suas crenças, opiniões e opções fora da empresa, é o mesmo que querer transforma-las em máquinas. Precisamos das pessoas como elas são verdadeiramente, e para isso um líder vai precisar trabalhar durante todo seu tempo, na missão de fortalecer a aceitação.
Lembrem-se de que não estou pregando a imparcialidade na liderança, isso para mim é pura demagogia, pois a parcialidade, ou seja, escolher um lado para você, faz parte do ser humano. Um líder pode ser justo, mas nunca 100% imparcial, cada um sempre terá seu ponto de vista, e irá decidir com base em suas interpretações. O mais importante é eleger o que deve ser levado em consideração em suas decisões em completo alinhamento com os valores da empresa. Questões como: religiosidade, opção sexual, gênero, cor da pele, nacionalidade, ideologia política, time de futebol, não me parecem ser os mais adequados critérios em uma tomada de decisão. A afinidade até surge como um ponto com certa importância na tomada de decisão, pois está normalmente atrelada à confiança, devido ao alinhamento de valores existente entre líder e liderado, mas é preciso muito cuidado para não cair em suas armadilhas.
Para ser um líder na diversidade, alguns pontos devem ser lembrados:
- A aceitação da diversidade não se mede em percentuais: uma empresa pode ter um grande percentual de mulheres em seu quadro funcional por exemplo, e até mesmo de liderança, e é preciso reconhecer que isso já é um grande começo, mas, será que elas estão tendo seu espaço como mulheres ou precisam agir como se fossem homens para serem respeitadas?
- As pessoas precisam encontrar condições para serem quem realmente são dentro das empresas: se você acha que tudo está bem em sua empresa, faça uma pequena reflexão. Quantas pessoas assumidamente homossexuais trabalham com você? Será que o ambiente de trabalho em sua empresa é realmente aberto para as pessoas serem quem são? Existe algum membro da liderança que seja homossexual assumido?
- O espaço e os mecanismos de trabalho jamais devem ser utilizados para a práticas ideológicas: a empresa precisa dar direitos iguais a qualquer prática ideológica. Se os cristãos têm uma mesa para realizarem suas orações na hora do almoço, a mesma oportunidade deve ser dada aos seguidores de outras crenças religiosas, e aos que não tem nenhuma também. Será que vai existir espaço para todos fazerem suas práticas? Por isso é melhor não abrir precedentes.
- Incentive o debate e repudie os rótulos: debater pontos de vista distintos fazem muito bem para o desenvolvimento de qualquer grupo de trabalho. É papel de um líder incentivar essa prática, mas também é papel de um líder repudiar aqueles rótulos que só denigrem as imagens das pessoas: quem vota em certo partido é ladrão; aquele que segue aquela religião é pouco inteligente; escolheu não ter filhos por ser irresponsável; apoia a pena de morte então é fascista.
Bem, para concluir esse texto eu precisaria escrever umas 300 páginas, e não sei se tenho habilidades para isso, mas uma última coisa é importante ressaltar neste tema. Tome muito cuidado com aquilo que a chamada maioria pensa. Você como líder, precisa ser um agente da aceitação, e em muitas ocasiões, a tal da maioria vai tomar direções contrárias a isso, aí você precisa fazer a sua escolha: vai ser um líder da diversidade ou não ?
André L. G. Ferreira, Coach certificado pela International Coaching Community, Administrador e especialista em Qualidade.
contato: andre.ferreira@greendh.com.br