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Vintage voltmeter
Muito além do empoderamento
Estilos de poder no exercício da liderança
(baseado na obra de James Hillman – Tipos de Poder)
por André Ferreira

O poder se apresenta por meio de várias faces dentro do exercício da liderança. Pode ser concentrado, como acontece em configurações mais hierárquicas, ou mais distribuído entre os integrantes de um sistema, assim como acontece no modelo sociocrático ou holocrático. Alguns dizem que o poder é opressor, e uma frase de Jung ilustra muito bem essa visão:

 
Onde o amor reina, não há vontade de poder; e onde a vontade de poder é soberana, o amor está ausente.”

 

Essa interpretação do poder, que impede que o poder conviva com um dos sentimentos mais nobres da humanidade, acabou construindo em algumas pessoas um verdadeiro temor, algumas vezes, um grande conflito interior em quem busca ou possui algum tipo de poder.

 

Mas será que podemos viver sem o poder?

 

Indo ainda mais longe. Você conhece alguma pessoa que não tenha pelo menos algum tipo de poder?

Seria possível liderar sem poder?

 

Talvez, seja muito difícil darmos uma resposta definitiva para cada uma dessas perguntas. A sociedade evolui a cada dia, e as respostas podem estar mudando a cada minuto. Portanto, melhor seguir em uma direção mais segura nesse artigo, caminhando por territórios mais conhecidos por nós. Seguindo esse caminho, podemos explorar alguns dos mais frequentes tipos de poder demonstrados no ambiente organizacional, e por isso, em minha opinião, devem ser alvo de grande reflexão e autoconhecimento por parte de líderes e liderados. Principalmente para que não sejam ambos sugados pelas armadilhas do poder.

 

Controle

 

Não existe palavra mais relacionada ao poder do que “controle”. “Quem está no controle?” “As coisas estão sob controle.” “Se eu estivesse no controle as coisas seriam melhores.”

 

Como Maquiavel definiu brilhantemente, em seu clássico O Príncipe: o poder se baseia em uma luta de controle vs Fortuna, a deusa caprichosa da sorte e do destino. Maquiavel opõe os dois, sendo que o poder se transforma única e exclusivamente no ato de controlar as intervenções imprevisíveis de Fortuna. Sendo assim, trazendo para o mundo dos mortais, o poder do controle está com aquele que consegue prevenir, dirigir ou inibir as eventualidades.

 

Claro que o controle total, principalmente o controle do que é imprevisível, não passa de uma ilusão. Mas, muitos líderes acabam caindo nessa armadilha, e se transformam em verdadeiros maníacos por controle. Burocratizam tudo. Centralizam todas as informações, decisões e principalmente definem todos os métodos a serem seguidos por seus colaboradores.

 

Mas afinal, será que não é esse o papel que esperamos de nossos líderes? O que esperamos de CEOs e governantes? Precisamos de alguém que mantenha as coisas sob controle, não é mesmo?

 

Muitos líderes de sucesso que conheço, passaram a utilizar menos o “controlar”, e apostaram mais no “monitorar”. Monitorar de perto o que é crítico para o negócio, sem essa ilusão de controle. Monitorar e ter bons planos de prevenção e reação para o que é crítico. Não se trata de abandonar o resto ao acaso, mas confiar nas pessoas e processos que são responsáveis por seus resultados.

 

Cargo

Quantos não são os exemplos de pessoas, que você deve conhecer , que ocupam cargos de poder, e não são reconhecidos como líderes.

 

Costuma-se dizer que não estão à altura do cargo que ocupam. Quando isso acontece, os efeitos podem ser desastrosos para a carreira de quem ocupa esses cargos, e pior ainda para quem está abaixo deles. Basta observar o que acontece com um país governado por uma pessoa que não está à altura do cargo.

 

Nossa cultura costuma dar muito poder aos cargos. Temos vários exemplos das famosas “carteiradas”. A política do “você sabe com quem está falando?”

 

Não deve ser novidade, para quem esteja envolvido com o mundo corporativo, que muitas coisas só acontecem quando alguém com cargo de liderança resolve aparecer e cobrar. Fato que levou muitas empresas a incharem seus quadros de liderança, criando gerentes, diretores e supervisores que nem mesmo possuem colaboradores sob sua direção. Sabe aquela sensação de que “existe muito cacique para poucos índios”?

 

Um poder que vem com o cargo também vai com o cargo. O cargo sugere uma transcendência impessoal que coroa você, como ocupante temporário de um posto que ,na maior parte das vezes, já existia antes de você, e que vai continuar existindo depois de você. O que muitos se esquecem, ao exercerem o poder conferido por um cargo, é o fato de que ocupar um cargo é estar a serviço de alguma coisa “acima” de você. Jamais se esqueça disso.

 

Influência

 

O artigo 332 do código penal brasileiro, diz que é crime solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função. O famoso “tráfico de influência”.

 

Essa lei acabou marginalizando o poder dos influentes. Mas, é preciso separar o joio do trigo, e saber que a maior parte dos influentes não costumam traficar seu poder.

 

O poder de influência pode ser visto como um recado de alguém dentro ou fora do sistema, dizendo: “Eu também estou aqui, e preciso ser levado em consideração.”

 

Pode ser até influência conquistada por meio de uma representação importante, como um líder sindical ou uma ONG. Mas, existe um poder de influência que é muito sútil, e muitas vezes não é percebido por boa parte das pessoas dentro de uma organização. O poder de influência daqueles que dentro do sociograma são chamados de “Eminência parda”. É o indivíduo que exerce a maior influência sobre quem está no poder. Sabe aquela história de lidere seu chefe? Então, aqui está um exemplo clássico de quem faz isso com muito sucesso. Você já identificou quem faz esse papel em sua equipe de trabalho?

 

Autoridade

O mau uso da palavra “autoridade” confundido com “autoritarismo” também precisa ser corrigido por todos nós. Afinal, existe uma grande diferença entre uma voz com autoridade e uma voz autoritária. Ser autoridade em algum assunto está mais correlacionado a sabedoria que alguém acumulou ou demonstrou sobre esse assunto do que o poder do medo que uma posição confere a alguém em algum momento da história.

 

A autoridade pode surgir com a velhice, embora isso não seja verdade para todos nós, basta olhar o estereótipo que a velhice carrega nos tempos atuais, do “velhinho” na cadeira de praia, ou jogando baralho em uma praça, que nada tem a ver com a autoridade atribuída aos anciões dos clãs nos tempos antigos.

 

O poder da autoridade pode surgir também através de um grande feito, ou de uma vida repleta deles, mas até isso não é assegurado, pois a especialização especifica nem sempre confere o peso mais amplo do respeito. A experiência de campo contribui para a autoridade, mas a reflexão na poltrona se mostra proporcionalmente mais significativa. Aqui está aquela velha luta entre os “gurus da teoria” e os que estão no “campo de batalha” das corporações.

 

Carisma

 

O carisma pode recair sobre qualquer um de nós, e infelizmente até sobre aqueles que não demonstram quase nenhuma capacidade para liderar. O carisma quando está em mão erradas, pode trazer uma certa confusão para os seguidores da figura carismática. A confusão que faz pessoas chamarem o “ilusionista” de “mestre”.

 

A pessoa carismática é aquela que traduz exatamente o que está acontecendo no momento. Basta olhar para a história e enxergar as figuras que representaram o espírito de uma época. Muitas vezes elas construíram sua própria época. Mas, na maior parte das vezes, o carismático desaparece tão rápido quanto surgiu para o cenário do poder. Alguns até são lançadas na vala dos charlatões.

 

Fato é que muitas empresas apostam fortemente em manter figuras carismáticas na comissão de frente de suas operações. Isso costuma favorecer a imagem da empresa perante a mídia, e a sociedade. Mas se esse carisma não for acompanhado de autoridade, o longo prazo pode ser bem desfavorável.

 

Ser um líder carismático, contanto que não seja só isso, pode ser realmente um poder que facilita muito no dia a dia com a equipe. Saber tocar o coração das pessoas, é um bom primeiro passo para abrir caminho, e fazer baixar as armas em momentos de assuntos difíceis.

 

Decisão

 

O grande dilema de um líder está em reconhecer qual é o momento de “pensar” e qual é o momento de “agir”.  Aqui já está a primeira evidência do poder das decisões na vida de um líder. A estilo na tomada de decisão é avaliado em testes, entrevistas, e praticamente nenhum líder é promovido sem demonstrar que tem essa capacidade.

 

Cada decisão tomada, deixa pelo caminho vencedores e perdedores. Isso conhece quando um líder escolhe uma entre duas ideias, um entre dois colaboradores para uma função almejada ou repugnada por ambos, na distribuição dos percentuais da bonificação anual, na pontuação de performance etc.

 

Juntamente com o peso de influência, o tempo e a assertividade na tomada de decisão são os principais indicadores por onde um líder demonstra seu poder perante os demais atores organizacionais. Quem toma decisão de forma rápida e assertiva costuma ter destaque, e mostrar que tem poder perante um mundo cada vez mais conectado. Mas, também é demonstração de poder o adiamento das decisões. Quanto mais um líder hesita, consulta especialistas, faz reuniões deliberativas e lê resolução de comitês de peritos, tanto mais importantes parecem ser a decisão e a sua própria posição no processo decisório. Sendo assim, temos que considerar que a indecisão também pode ser uma demonstração de poder, e podemos identificar pelo menos três tipos que costumam

ocorrer com certa frequência:

 

  1. timidez, relutar em decidir a favor de um lado em demérito de outro, por temer os riscos decorrentes dessa decisão;
  2. sabedoria prudente, na prevenção de consequências de uma decisão;
  3. hesitação a fim de manter o prestígio e permanecer no cargo.

 

Quando você hesitar em decidir, examine o mix desses três ingredientes acontecendo em você. Mas, até o ato de fazer esse exame já é uma decisão.

 

Com certeza eu poderia explorar uma infinidade de tipos de poder aqui nesse artigo, mas utilizei o meu poder de decisão para escolher esses seis tipos que mais me chamaram a atenção dentro da fantástica obra de James Hillman, Tipos de Poder. Recomendo, pincipalmente para quem trabalha no exercício da liderança, que leia esse livro. Com certeza será um belíssimo exercício de autoconhecimento e fortalecimento no seu convívio com o tão assustador poder.

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André Ferreira

 

é Consultor , Coach certificado pela International Coaching Community, Administrador ,especialista em CNV (Comunicação Não Violenta)  e Instrutor em Mindfulness.
https://www.greenintegral.com.br
andre.ferreira@greendh.com.br