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Mudar ou Transformar ?
O dilema oculto das organizações
por André Ferreira

Parece algo muito simples, e até sem sentido para que se escreva um artigo sobre esse tema – Mudar ou Transformar? – Mas, você sabe qual é a diferença de significados entre esses termos?  Talvez, se eu disser para você , que este é o grande dilema oculto das organizações, você até pode duvidar. Sendo assim, vamos ao contexto do que anda acontecendo no macrossistema organizacional.

Que o mundo está cada vez mais complexo, seja lá qual for o tipo de organização, isso não é segredo para ninguém. Também não é novidade, que para fazer frente a esse incremento de complexidade, testemunhamos o surgimento de um  “poderoso”  mantra que tomou conta do ambiente corporativo. Um mantra que deu muito certo nas empresas de tecnologia, e como elas fizeram muito lucro, em tão pouco tempo, virou um sonho para qualquer gestor:

 

“Precisamos ser mais ágeis e inovadores .”

 

Para se atingir a “iluminação”, que é a vivência desse mantra na prática, os grandes Gurus da gestão apontam para o caminho da mudança constante. Mas, será que mudar tanto assim é saudável? Será que pelo menos temos a compreensão do que significa o termo “mudar”? Será que não seria melhor “transformar”? Mas  “transformar” não é o mesmo que “mudar”?

 

Boa parte das pessoas que conheço, não dão a menor importância ao significado de alguns termos largamente utilizados dentro desse complexo novo mundo organizacional. Tudo anda caindo na vala comum da obviedade. Em minha atuação como consultor em muitas equipes de colaboradores, ou lideranças, tenho notado que o “óbvio” está causando muito estrago. Esse estrago, que a não compreensão de termos como “mudar” e “transformar”, pode colocar em risco o resultado de todo um planejamento.

 

Mudar ou Transformar?

Para trazer significado para essas palavras, resolvi recorrer a uma metáfora utilizado por Humberto Maturana .:

 

Você deve possuir um computador, e constantemente deve instalar novos softwares nessa máquina, visando tirar dele novas funções. Imagine que deseja agora instalar um aplicativo de Streaming nesse computador, deseja assistir seus filmes e séries nas horas vagas. Ao mesmo tempo, não quer que seu computador deixe de executar com qualidade os demais programas que você usa para as demandas de seu trabalho.  Esse é um exemplo de transformação, segundo Maturana, onde você quer mais complexidade para o futuro, ao mesmo  tempo que quer manter alguns elementos que estão presentes na atualidade. O computador é o mesmo, você não quer mudar o Hardware, não quer substituir o sistema operacional, você só quer um aplicativo de Streaming .

 

Agora imagine que você resolve destruir com um martelo o seu computador. Quebra o equipamento em incontáveis pedacinhos. Resolve que no lugar dele vai ter uma Smart Tv, onde poderá assistir seu Streaming. Você não se importa em perder as demais funções e sistemas que o computador possui, e sim adquirir as novas e diferentes funções que a TV está entregando. Segundo Maturana, esse é um bom exemplo do que é “mudar”. Aqui não se deseja manter no futuro nada do que o presente entrega, tudo é novidade.

 

Outro exemplo bem interessante utilizado por Maturana, está no que acontece com desenvolvimento de uma criança. Segundo ele, o que se busca nesse desenvolvimento, é uma constante transformação, pois se espera que ela mantenha com ela durante sua vida valores de honestidade, criatividade etc, ao mesmo tempo em que a criança vai agregando novos conhecimentos e habilidades.

 
Nas organizações, temos a noção quando é momento de “transformar” ou “mudar”?

 

Depois que se tornou usual a palavra “disruptivo”, acredito que perdemos a noção do momento de um e de outro, e parece só ter restado o caminho do “mudar”. Mas, é com este entendimento, que estamos cometendo os piores erros de gestão. Não estou dizendo que o “mudar” não seja necessário em alguns casos, porém, acredito que devemos “transformar” mais do que “mudar”.

 

Um bom exemplo de “transformar” é o que aconteceu em algumas culturas orientais. No Japão e na China, a tradição de valores milenares convive com a inovação e a agilidade tecnológica, e apresenta os melhores resultados. Isso não quer dizer que em algumas vezes o antagonismo não surja entre uma coisa e outra, e isso é até saudável, pois gera um questionamento sobre o que não se pode perder, e o que por acaso estamos retendo sem nenhuma necessidade.

 

Também nas empresas, vejo com certa preocupação, o impacto dos modismos que surgem a cada ano. São siglas e métodos trazidos de culturas diferentes, sendo aplicadas em áreas com características e fundamentos por vezes muito distintos daqueles onde foram originados. Algo em comum em praticamente todos esses métodos milagrosos, está no fato de que costumam demandar forte investimento de recursos, e na maior parte dos casos não duram até a próxima primavera. Inclusive, esse é um dos fatos que justificam os mandamentos da “mudança constante”. Uma metodologia só dura uma temporada entes de se tornar obsoleta.

Com esse modelo de pensamento, só se busca o “mudar”. Um eterno acabar com tudo e começar tudo de novo.  Pior ainda é quando algumas empresas acabam caindo na armadilha dos conceitos adaptados. Hoje estamos na onda do copiar as práticas do setor de Tecnologia. Não importa qual seja o setor.  Já presenciei a total reformulação de escritórios, implementação de quadros disso, e daquilo, sem nenhuma utilidade prática. Mas, é preciso ser igual ao Google, me disse um Diretor uma vez.

 
Qual o motivo de não apostarmos no “transformar”? 

 

Pessoas não evoluem em consciência de maneira “disruptiva”. Assim como acontece com uma criança em seu desenvolvimento , é preciso que se respeite algumas fases, e isso demanda algum tempo, para que possamos “transformar” com sustentabilidade , sem perder o que temos de melhor.

 

Nas organizações, poucos são os heróis que  lutam por esse “transformar” gradual, ao invés do “mudar” radical. Sabe aquele médico de pronto socorro que só receita Antibióticos, mesmo ele trazendo vários efeitos colaterais? Esse é sistema operacional da gestão nos dias de hoje. Exemplos desta conduta, podem ser vistos no desenvolvimento de equipes. Muitos gestores acreditam que uma simples palestra de uma hora com uma personalidade , trará o mesmo efeito que uma trilha de dez horas de desenvolvimento.

Outra condição para o “transformar” acontecer, está na criação de espaços de conexão e diálogo entre colaboradores, para que possam juntos absorver, compreender e digerir as complexidades que surgem em seus sistemas. Quando digo isso, estou me referindo a práticas que não buscam nenhum resultado mensurável a curto ou médio prazo. O resultado é a transformação ao longo do tempo. Tão pouco estou dizendo sobre uma transformação com endereço definido, pois não sabemos onde ela vai dar. O verdadeiro “transformar” é um grande exercício de confiança naqueles que estão com você, seja você um gestor ou um colaborador. Pois, esse “transformar” só acontece através da visão de realidade, dos diferentes pontos de vista, e propósitos existentes nas pessoas e elementos de um sistema complexo, como é uma organização. Em sua empresa existe espaço para esse “transformar”?

 

Segue uma recomendação

 

A incrível Nora Batson  , me ensinou uma linda prática capaz de criar esse espaço de diálogo complexo entre pessoas. Me refiro ao Warm Data Lab. Onde somos levados a dialogar de forma profunda sobre a complexidade da qual fazemos parte. Em fevereiro de 2020 eu escrevi um artigo sobre essa prática, se quiser ler basta clicar aqui .

 

Bem, não é minha intenção fechar esse artigo com alguma grande verdade ou recomendação para você ou sua empresa. Minha intenção está em abrir espaço para a construção de novas compreensões. Por isso, aproveito lhe convidar para nosso grupo de pensamento complexo, onde dialogamos sobre diversos temas. Normalmente trocamos indagações por WhatsApp e fazemos alguns encontros online.

 

Fique a vontade para se inscrever por esse link: Inscrição no Grupo de Pensamento Complexo

 

Gratidão por sua leitura!

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André Ferreira

 

é Consultor , Coach certificado pela International Coaching Community, Administrador ,especialista em CNV (Comunicação Não Violenta)  e Instrutor em Mindfulness.
https://www.greenintegral.com.br
andre.ferreira@greendh.com.br