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Não estou cometendo nenhum exagero ao afirmar que minha espécie simplesmente “parou no tempo”. Desde o surgimento do Homo Sapiens, e sua integração aos complexos ambientes naturais de nosso planeta, foi nítida a dinâmica evolutiva em nossa espécie. Inclusive, tivemos grandes saltos nessa evolução. Não se pode negar, por exemplo, a evolução que tivemos ao abandonar, e criminalizar, hábitos culturais, reconhecidos em nossa história, que normalizavam sacrifícios humanos para satisfazer a ira de supostos deuses.
Outro grande feito foi a evolução da ciência, e destaco aqui a importância do despertar do pensamento filosófico que nos fez aprender a contestar as grandes verdades, mesmo sendo a maior vítima da tirania de ditadores e organizações que ainda se beneficiam do controle proporcionado por verdades manipuladas, conduziu a humanidade no desenvolvimento de sua habilidade de questionar.
O fato é que paramos de evoluir exatamente no que nos proporcionou a evolução em todas as demais esferas humanas.
Logo nós que sempre nos vangloriamos, frente aos demais ocupantes do planeta, por nossa capacidade de pensar e comunicar. O Homo Sapiens é a única espécie reconhecida com a capacidade de imaginar e comunicar o futuro.
Mas, mesmo depois de termos desenvolvido símbolos, que permitiram o surgimento da linguagem, e com isso o compartilhamento do que sentimos, pensamos, imaginamos e sonhamos. Mesmo tendo a capacidade de construir meios de eternizar todo esse conhecimento através da escrita, manifestações artísticas, imprensa, e toda democratização causada pela chegada da internet, ainda assim, afirmo que “paramos no tempo de nossa evolução em comunicação”.
As provas, dessa não evolução, estão por toda parte. Principalmente na dimensão onde tudo começa.
Gosto de significar o “eu” como a menor parte dentro da coletividade. Não existe “nós” nem “eles” se não pela junção de mais de um “eu”. Mas, deixemos essas nuances para serem aprofundadas aos que tenham interesse no estudo do pensamento complexo, e vamos ao que nos trouxe até esse ponto do texto.
Me ajude a encontrar possíveis respostas para essa indagação observando sua dinâmica com seu corpo, suas emoções e pensamentos.
Sua postura indica o que está sentindo ou pensando.
Suas expressões revelam suas contradições internas.
Seus indicadores da saúde corporal, que passam por diagnósticos médicos, a satisfação que você tem com o seu peso e as formas de seu corpo, e chegam na percepção que você tem de sua própria vitalidade, Indicam a harmonia que você alcançou com o todo que o cerca.
O corpo está comunicando tudo isto sobre o “eu” para o próprio “eu”. Mas, o que testemunhamos cada vez mais em nossos tempos, são os sintomas da ausência de comunicação com o corpo, e o não atendimento de suas necessidades. O corpo quer descanso, movimento, alimento, e quer o toque carinhoso de outro corpo também.
Parece que parte delas, em muitos de nós, é bloqueada, outra parte é interpretada com certa desconfiança, e em alguns casos acreditamos que somos nossas emoções. Quando bloqueamos, negamos, desconfiamos ou nos identificamos como sendo nossas emoções, e assim deixamos de reconhecer sua mais nobre função, que está na informação que cada uma delas nos revela, quem mais uma vez sofre as consequências é o “eu”.
Temos também, o problema de muitas culturas ditarem os sentimentos aceitáveis para homens e mulheres, criando famosas ditaduras dos sentimentos, vendidas como o “espírito do tempo”. Fácil reconhecer hoje em dia o exemplo da ditadura da felicidade, onde não há lugar para o “fracasso” de uma tristeza. Vendem livros e mais livros celebrando um “falso empoderamento” onde a
fragilidade humana é simplesmente sinônimo de fracasso e falta de esforço.
Assim criamos um corpo de dor capaz de permanecer em nós por muitos anos, e até ser transmitido entre gerações. Mas, o melhor de tudo é que temos sim o poder de aceitar e vivenciar as informações que essas emoções nos fornecem, e assim romper com velhos ciclos patológicos. Tudo é uma questão de se aceitar como humano.
No caso dos pensamentos, é preciso lembrar que vivemos na era da racionalidade, e o grande equívoco está no fato de darmos um valor desproporcional ao que nossa mente nos comunica, deixando de levar em consideração o corpo e as emoções em nossas decisões. Parte de nós se tornou escravo de seus próprios julgamentos, crenças e outras verdades construídas através das interpretações que colhemos em nossa história pessoal. Aprender a contestar a sua própria verdade, abrindo um diálogo com seus pensamentos, é a essência para se ter sucesso na evolução da comunicação com o “eu”.
Não teremos uma sociedade verdadeiramente evoluída em comunicação, se cada um de nós não se perceber, e buscar a compreensão de seu próprio “eu”.
Enquanto isso não acontecer, teremos cada vez mais tecnologias que são capazes de superar a distância física, mas não estaremos presentes e autênticos para utilizarmos todo seu potencial. Olhem para o que acontece nas dinâmicas diplomáticas entre os líderes globais. Hoje eles podem se reunir online, e uma assembleia geral da ONU, com a participação de todos os chefes de estado, pode ser agendada e realizada em poucas horas. Mas, nada mudou no “eu” de cada um desses chefes de estado. Nada mudou no “eu” de cada pessoa representada por eles. O resultado é que os anseios e objetivos de cada nação continuam ancorados em interpretações, medos, disputas, e discordâncias com origens que se perdem nos séculos, e que já não carregam nenhum sentido real. Não passam de meras memórias imprecisas e parciais.
Como cobrar de nossos líderes uma comunicação pela paz, se a maioria de nós não consegue reconhecer a própria paz interior?
O convite com esse texto é que possamos buscar, através de uma comunicação saudável com nosso “eu”, a evolução que tanto precisamos em nosso modelo de comunicação. Acredito no processo de contágio universal característico de nossos campos mórficos, onde um hábito pode ser semeado exponencialmente entre membros de uma mesma espécie.
Vamos semear o hábito abaixo?
André Ferreira
é Consultor , Coach certificado pela International Coaching Community, Administrador ,especialista em CNV (Comunicação Não Violenta) e Instrutor em Mindfulness.
https://www.greenintegral.com.br
andre.ferreira@greendh.com.br